Sou de uma geração que está começando a tomar cada vez mais o controle da humanidade. Não por ocupar cargos de poder, mas por representar uma voz clara e cada vez mais audível nas tendências.
Com o surgimento de novas tendências, vem também a rejeição de um movimento evidente. De repente, você percebe que os valores sobre os quais construiu sua identidade passam a ser derrubados, e outros novos surgem. O que era hábito agora é imoral e o que era imoral agora se torna cotidiano.
Cada geração se constrói analisando, desmembrando e negando padrões da anterior numa forma de ver o mundo que se alastra como uma onda gigantesca e inexorável que chega devastadora e violentamente à costa.
Isso é um ponto básico em história da arte. Talvez por isso eles, os artistas e estudiosos da área, sejam os que vêem e aceitam com mais naturalidade essa espiralidade humana que é a dança de gerações.
A arrogância e o empenho de Olavo de Carvalho são na verdade manifestações desesperadas contra a morte de valores. Mas a morte do antiquado é inevitável e na verdade representa os equilíbrios inerentes às forças construtivas e descontrutivas da natureza. As mesmas responsáveis pela manutenção da vida.
É fácil entender toda essa revolta. Seus valores começam a ser derrubados e não há mais uma voz audível que os defenda. As novas tendências surgem com receptividade e força. Enquanto os resistentes, isolados, não são capazes de fazer frente a ela.
Com Olavo, isso se expressa em agressividade, prepotência e medo do futuro. Afinal muitos de seus preceitos estão indo para nunca mais voltar. "Sou o único isso", "sou o único aquilo", "não há no Brasil outro como eu". É verdade. Não há no Brasil outra voz que se expresse com tanta paixão contra o impacto de gerações.
A visão individualista, inerente às religões abraâmicas, vem sendo substituída pela priorização da coletividade. E isso traz uma negação do pensamento cristão, e essa rejeição chega acompanhada de uma forma de ver o mundo que tende ao materialismo científico.
Olavo então se torna uma espécie de Antônio Conselheiro cibernético, reunindo adeptos devido à sua habilidade na elaboração das palavras, profetizando apocalipses e expressando com eloqüência seu desespero por trazer de volta preceitos semi-mortos. Suas palavras contra a coletivização do indivíduo já foram ditas por diversas outras pessoas ao longo da história, e não apenas pelos autores que este caudilho brasileiro gosta de citar:
"A doutrina judaica do marxismo repele o princípio aristocrático na natureza. Contra o privilégio eterno do poder e da força do indivíduo levanta o poder das massas e o peso morto do número. Nega o valor do indivíduo, combate a importância das nacionalidades e das raças, anulando assim na humanidade a razão de sua existência e de sua cultura. Por essa maneira de encarar o universo, conduziria a humanidade a abandonar qualquer noção de ordem. E como nesse grande organismo, só o caos poderia resultar da aplicação desses princípios, a ruína seria o desfecho final para todos os habitantes da Terra." (Mein Kampf, Adolph Hitler)
Sua voz no Brasil gera um eco tão tímido quanto inaudível, o que o leva a refugiar-se na cultura norte-americana, já que o povo dos Estados Unidos possui uma forte tradição de resistência ao óbvio (vide as várias associações lá existentes com milhares de adeptos defendendo com unhas e dentes conceitos já há décadas ou séculos derrubados. Como o criacionismo, a terra plana, a freqüente intervenção alienígena e etc).
De fato, os danos causados por esse eterno movimento em espiral são muito menores do que aparentam, e em sentidos práticos a mudança tende a ser gradual. Aquela onda que atinge a costa é grande. Mas passado o impacto inicial, a costa logo se estabiliza e o cenário permanece muito pouco alterado. Os danos são remediados, os seres se adaptam às mudanças e a paisagem se estabiliza numa paz que dura até que chegue a onda da próxima geração.
Assim, logo a minha geração também estará se debatendo em revolta e agonia contra uma substituição eminente. E é aqui que podemos aprender com Olavo como não agir, mas ao invés disso aceitar, lidar e conviver com as mudanças que os novos tempos trarão.
5 comentários:
Oi!
Gostei das suas metáforas. O texto ficou interessante apesar do conteúdo não enquadrar
a realidade que eu vejo. Por exemplo: o movimento espiral evoca algumas coisas da história humana, mas eu não consigo ve-lo na sucessão das gerações. A priorização da coletividade como uma tendëncia da sociedade atual eu também não enxergo, a não ser o trabalho massificador da engenharia social para facilitar o controle. Mas não era esta a idéia referida no texto.
Oi
Que bom que curtiu o texto.
Usei a palavra "geração" de uma forma abstrata. Não quis empregar o uso comum: "meu pai é de uma geração e eu sou da próxima". Ao invés disso me referi a um momento de mudança de pensamento em relação a um aspecto específico que se queira analisar.
A "priorização da coletividade" a que me referi é exatamente essa que o Olavo chama de "massificação pela engenharia social manipuladora".
Essa visão de ver os discordantes da idéia Olavete como um rebanho que segue religiosamente as idéias de um pastor, foi exatamente o que eu quis criticar no texto.
Porque ainda que esta manipulação exista (claro que não se pode subestimar o poder da mídia), basta você olhar para os grandes manipuladores da história humana e verá que a coisa não é bem assim.
Nenhum deles inventou ou enfiou um sentimento na população. Eles apenas aproveitam um cenário existente de descontentamento (ou qualquer outro tipo de sentimento coletivo pré-existente) e canalisam as intenções e reações para algum interesse específico.
Os movimentos das minorias são um exemplo disso. Para o OdeC eles são algo forjado e inserido artificialmente na mente do povo. Mas é claro que isso só surge porque há na população (não toda, é claro... mas na mídia e nos meios intelectuais) uma espécie de descontentamento em relação à forma como a sociedade humana tem históricamente lidado com os grupos que são minoria de alguma forma.
Além disso, sempre há aquele medo "quando eu for minoria, vou querer ser respeitado também"... e obviamente todos somos parte de alguma minoria em algum aspecto.
Esse aspecto representa uma clara priorização do bem estar coletivo em detrimento das discordâncias individuais.
É claro que para a mídia exaltar tanto qualquer movimentozinho sem sentido (voluntariado, agressividade excessiva contra o cigarro, reciclagem, etc...) ela deve estar lucrando alguma coisa com isso.
Mas o fato de haver um interesse monetário por trás de uma cobertura não quer dizer que o movimento seja ilegítimo. Obviamente ainda assim cada um destes movimentos só existe por encontrar um respaldo REAL em necessidades/vontades legitimamente existentes.
Obrigado por comentar
Abraços
Suas considerações sobre Olavo de Carvalho me fizeram rever algumas de meus pensamentos sobre ele... Excelente post!
Como te disse, por e-mail, eu também acho que o Olavo seja incongruente e até mesmo desonesto em muito daquilo que "prega". Existem algums poucas coisas que me parecem certas (o lance da "certidão de nascimento do Obama" é realmente algo muito "estraho", por exemplo)...
Anyway, sou um ouvinte do podcast True Outspeak por duas razões: É divertido ver o contorcionismo filosófico (dele e do filho dele) e as contradições (afirma ser católico, mas mete o pau na igreja, por exemplo). Acho interessante ver como pessoas assim anseiam tanto por retornar ao século XIV!
Grande Abraço
Po, valeu cara.
"Acho interessante ver como pessoas assim anseiam tanto por retornar ao século XIV!"
Exatamente! Essa é uma atitude que me intriga nele. Essa coisa de estar constantemente expressando uma certa nostalgia virtual quanto ao homem no seu estado de vida mais primitivo. Sempre essa atitude de exaltar o passado e amaldiçoar o futuro.
Um cara com a cultura que ele tem já devia ter se livrado desses cacoetes ideológicos.
Mais uma vez valeu pela força
Abração
Vc realmente nunca leu Olavo de Carvalho...
Ou realmente se interessou ou pesquisou sobre suas idéias.
Deveria ler O Imbessil Coletivo. =D
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