28 de set. de 2009

A Piada Anti-Drogas

Os clichês:

1) O marido chega tarde em casa, bate na mulher. O bafo de onça denuncia: está fora de si e a culpa é da bebida!

2) O filho adolescente, que antes tirava notas boas e ajudava em casa, agora some demanhã, passa o dia sabe-se-lá-com-quem fazendo sabe-se-lá-o-que sabe-se-lá-aonde (mas se sabe que com certeza não está indo pra escola). Pelo cheiro nas roupas e olhos vermelhos os pais logo concluem: "a maconha estragou nosso filho".

Os fatos:

Esses dois clichês são tão repetidos que às vezes todo mundo parece esquecer o quão ridículos eles são. A argumentação é longa, mas vou resumir em dois fatos:

1) Estes entorpecentes (legais ou ilegais) simplesmente NÃO SÃO CULPADOS por atitudes. Eles apenas realçam algum aspecto que já existia na pessoa que está sob efeito de uma droga.

O psicólogo Arilton Fonseca, num estudo divulgado como sendo uma comprovação científica da relação entre álcool e violêcia doméstica diz: "É muito mais fácil perdoar quando o agressor bebeu. A vítima considera o álcool o culpado e não o violentador. Acredita que, quando sóbrio, a rotina de violência cessa."



Ou seja, a pessoa agredida quer acreditar que o agressor só é assim violento porcausa do álcool, e o agressor quer convencer (aos outros e a si mesmo) de que a violência é fruto da bebida, assim ele foge da responsabilidade dos próprios atos.

Quanto ao clichê número 2 (o do filho adolescente que não vai mais pra aula), a situação é exatamente a mesma. Os pais não querem acreditar que o filho escolheu agir assim. E o filho, quer que acreditem que ele foi influenciado (por alguém ou por alguma coisa) a fazer o que faz. Assim é fácil ser perdoado e continuar ganhando a mesada.


2) Vamos fingir que o fato 1, explicado a cima, esteja errado. Vamos supor que os entorpecentes de uma forma geral, possuem alguma propriedade capaz de deformar completamente a personalidade de algumas pessoas.

Continuando a hipótese fictícia, se eu bebo e o álcool acaba forçando a minha mão a bater repetidamente contra o rosto da minha esposa, ou se quando fumo maconha, o THC faz com que eu fuja da escola, é óbvio que nunca mais vou consumir nenhuma destas duas substâncias!



Se a pessoa sabe que a tal substância manipuladora controla seu corpo e o força a fazer coisas que trazem sofrimento pra si e para os outros ao redor, e ainda assim ESCOLHE conscientemente que vai tomar mais uma dose, não é a substância que deve ser responsabilizada e proibida, mas esta pessoa é que é diretamente culpada e precisa de tratamento psicológico.

24 de set. de 2009

O Que É Pastafari?

Todo mundo fica me perguntando isso quando vê o blog ou minha descrição no msn. Pros que ainda não sabem (apesar de esta brincadeira já ter se espalhado por toda a internet), aí vai uma explicação simples e resumida:

Pastafari é o cara que "acredita" no deus Monstro Espaguete Voador (MEV). E sim, pastafari foi copiado rastafari. Na verdade é um rastafari que adora o deus Pasta. Se você se perguntou "pasta igual a macarrao em inglês?" acertou. Traduzindo literalmente, a "religião" se chamaria Macarrãofari ou Espaguetafari

As tantas aspas do parágrafo de cima estão ali porque é claro que ninguém realmente leva a sério essa besteira. Ninguém seria tolo o bastante para acreditar numa bola divina de macarrão com duas almôndegas no meio (ironia?).

Essa paródia foi criada por um americano para satirizar um movimento cristão nos EUA que busca formalizar o ensino do criacionismo (é, aquela historinha que diz que deus criou tudo e pronto) contra as aulas normais sobre a teoria da origem das espécies de Darwin.

Portanto quando você encontrar alguém que se diz Pastafari, vai saber que essa pessoa não apenas é contra o criacionismo como também gosta de lidar sobre o assunto com bom-humor e ironia (na minha opinião, a única forma de lidar com pessoas que não respondem bem a argumentos lógicos).

Símbolo pastafari:


A sigla FSM (Flying Spaghetti Monsterism) quer dizer Monstro Espaguete Voador

Mais imagens das aparições do divino Monstro Voador em igrejadomev.blogspot.com

Cadê as fontes? Qual o nome do inventor? Que ano foi? Blá blá blá...

23 de set. de 2009

A Razão Virando Pop?

Depois de ter crescido ouvindo a Xuxa dizer "tudo que eu quiser um cara lá de cima vai me dar" (eu realmente via ela como uma rainha), e o Bon Jovi cantando meloso "Right now we got to keep the faith" ("Bem agora temos que manter a fé"), sem nunca parar pra pensar em "A arte é de viver da fé, só não se sabe fé em que", soa como um indício de esclarecimento coletivo ver letras como algumas de Jack Johnson e John Mayer.

Jack Johnson, apesar de gastar quase toda a letra de seus 3 CDs de estúdio criticando a sociedade e principalmente a mídia, fala explicitamente apenas na música "It's All Understood" dos problemas relacionados à crença:
"Estava lendo um livro,
ou talvez fosse uma revista
Sugestões de onde colocar a fé
Sugestões de no que acreditar
Mas o BOM LIVRO é bom
e isso é bem entendido,
então nem questione,
se é que me entende
É tudo relativo,
especialmente quando você não entende"

E assim continua nas frases ácidas até o fim da música. Se isso gera felicidade em algumas poucas mentes racionais por ver mais um excelente artista popular divulgando o esclarecimento neste aspecto, essa alegria não dura muito ao ver que ele usa o "deus abençoe a todos" nos seus shows.

Bem, ao menos ele diz assim:
"...vejo as bandeiras americanas nas casas e carros e os dizeres 'deus abençoe a América' o tempo todo. O que é bom, mas acho que deus quer abençoar a todos na terra, e não apenas aos americanos"
(Leia a parte 2)

A Razão Virando Pop? (parte 2)

(chegou agora? Leia a parte 1 aqui)

Em letras bem mais suaves e um som bem mais blues que Jack Johnson, mas mantendo as críticas à sociedade e sua televisão, John Mayer diz em "Belief" ("Crença"):
"A crença é uma armadura bonita
mas se torna a espada mais pesada
como dar um soco na água
você nunca consegue atingir quem quer
Alguns conduzem a exibição
e alguns têm que saber que tentaram

É uma arma química
para a guerra que enfurece por dentro
Oh, todo mundo acredita
Do vazio a tudo
Oh, todo mundo acredita
e ninguém vai silenciosamente
...
O que põe cem mil crianças na areia?
A crença consegue
O que põe uma bandeira dobrada nas mãos de uma mãe?
A crença consegue"


Tudo isso pode ser um indício de mudança do pensamento popular, ou pode não significar nada. Afinal o Metallica, no Black Album (1991), que vendeu mais de 25 milhões de cópias, já criticava fortemente o "deus que falhou" na música com o mesmo nome ("The God That Failed").



Mas o Metallica era uma banda de Metal, ou seja, aqueles cabeludos de preto que criticam a tudo raivosamente e apesar de na época estarem em todas as rádios e MTVs, ninguém realmente se importa com o que falam. Mais ou menos como o System of a Down nos últimos anos criticando o sistema americano e sua máquina de produzir guerras.

De qualquer forma o ato de criticar a fé (que é cega por definição) parece estar se tornando popular. Difícil dizer se é por termos mais artistas pensantes ou apenas porque a indústria fonográfica procura atingir o crescente mercado de não-crentes (ou crentes mas questionadores, se é que isso existe).

Os dois casos representam uma popularização do uso do raciocínio lógico aplicado a todos os âmbitos da vida. O que é um passo fundamental para o início do processo de construção de uma sociedade mundial equilibrada.

Se você quiser ouvir as músicas citadas do Jack Johnson, só conferir o blog do Eterno Contestador: http://gamesediversoes.blogspot.com/2007/09/jack-johnson-discografia.html

22 de set. de 2009

Em nome do debate?

Muitos debates tem pipocado cada vez mais por todo o lado.
Debates de todo tipo, o importante é debater.

Todo mundo "apóia" o "livre debate" de "idéias", porque soa tão politicamente correto que se alguém se recusa a entrar nesse joguinho fútil de idéias parciais, imediatamente já é tido como o lado errado da polêmica em questão.

Só que as polêmicas só chegam a ser tão turbulentas, porque de alguma forma mexem em pontos que se confundem com a própria identidade de um grupo razoavel de pessoas.

Esse é o caminho que faz o pensamento torto e inconsciente dos grupos que se reúnem ao redor de uma discussão: "Meus valores são meu eu, questione um deles e você estará questionando a minha própria formação. E isso me ofende profundamente".

Assim se faz com que o lado conservador parta pra cima de qualquer um que tenha a ousadia de sugerir mudanças, com uma fúria tão voraz que o tal "debate livre de idéias" na verdade vira só um nome para a versão moderna de apedrejamento em praça pública.

Logo o outro lado não deixa por menos, e começa a rebater na mesma moeda.

Assim temos dois lados, cuspindo insultos ou fatos distorcidos disfarçados de idéias. E a mídia (Fox News e Globo adoram) aplaudindo, transmitindo em cadeia nacional e transformando cada xingamento em ponto no ibope.

Se era pra ser assim, valia mais reprisar o filme novo do Steven Seagal.