19 de nov. de 2009

Não, Não Estou Competindo

Já que vivemos num país com esta mentalidade primitiva, matuta e nazista de classificar meticulosamente o indivíduo de acordo com cada detalhe visual, tive a idéia de um novo acessório rotulador.

Não que se despreze a importância da imagem. É óbvio que em ambientes competitivos (como na disputa por um emprego ou na balada atrás de um(a) parceiro(a)) a imagem é uma ferramenta de conquista poderosa, e apartir disso toda a conseqüência no mundo da moda e na indústria de roupas e acessórios é plenamente compreensível e aceitável.

O problema não é a rotulação, que é apenas uma reação natural e necessária para a sobrevivência em sociedade. A primitividade começa quando ela passa a amplificar detalhes resultando em maus tratos e obstáculos sem sentido.

Então já que é pra etiquetar cada um, vamos fazer de acordo com um critério que seja realmente importante. Cada um usará um lenço de cor verde ou vermelha.

Aliás só um lenço no pescoço é pouco. Será lei: todas as cores das suas coisas (carros, roupas, máscara pra combater o mal) estarão sempre combinando com o verde ou com o vermelho (de acordo com sua classificação) ao estilo Power Rangers.



Assim, quando eu estiver dirigindo minha moto verde e buzinar para um carro vermelho que vira à esquerda sem sinalizar, o motorista vai olhar pelo espelho e saber que eu queria dizer "cuidado cara, você virou sem sinalizar" e não o habitual "seu barbeiro filho duma puta! Vai aprender a dirigir essa porra direito [porque eu dirijo muito melhor que você]!".

Então o agressivo condutor, ao invés de buzinar ainda mais alto, colocar o dedo do meio pra fora da janela e ir parando o carro pra ver se vou atrás dele querendo brigar, vai ver o meu verde explicando que eu não ligo se ele corre mais, não ligo se ele dirige melhor e muito menos se o carro dele é mais caro.

Do mesmo jeito, quando eu fizer um comentário ou crítica a um amigo ou colega de trabalho, ele vai ver a cor do meu uniforme dizendo "não, não estou competindo", e vai entender que não estou pisando nele para me sobressair, mas só falando sobre aspectos que acredito que devam ser mudados. O que nem sequer implica que eu me considere melhor que ele nestes mesmos aspectos.

Meu colega vai saber que não precisa se defender com todas as armas do meu comentário como se eu estivesse procurando um ponto fraco para enfiar uma facada, e então talvez ouça e tente entender o que eu estou dizendo, do mesmo jeito que eu fiz quando ele estava falando antes de mim.

Assim essa massa competitiva, que por um impulso desesperado e constante para se destacar acaba ostentando até suas piores mediocridades como se fossem troféus, não vai mais torrar meus ouvidos numa ginástica verbal para mostrar que o pai ganha mais, o cachorro come mais, que sabe mais do cantor, do autor, do filme, etc.

Afinal, nem mesmo crianças continuariam se esforçando tanto para vencer uma corrida na qual o oponente nem sequer está tentando correr.

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